quinta-feira, 26 de julho de 2007

"Que sucesso? Eu nunca agradei a mim mesmo. Não gosto de mim como escritor. O pior de tudo é que me sinto numa espécie de embriaguez e muitas vezes nem entendo o que escrevo... Veja, eu adoro essa água, essas árvores, esse céu, sinto a natureza, ela desperta em mim um entusiasmo, um desejo irresistível de escrever. Mas não sou apenas um paisagista, sou também um cidadão, amo o país, o povo, sinto que, se sou um escritor, estou obrigado a falar do povo, dos seus sofrimentos, do seu futuro, a falar da ciência, dos direitos do homem etc etc, e então falo sobre tudo, me afobo, me pressionam de todos os lados, se irritam comigo, eu corro de um lado para o outro, como uma raposa acossada por cães de caça, vejo que a vida e a ciência avançam cada vez mais, enquanto eu vou ficando sempre para trás, como um mujique que chegou atrasado para pegar o trem, e no fim tenho a sensação de que só sei mesmo descrever paisagens e em tudo o mais sou falso, sou falso até a medula dos ossos."

Anton Tchekhov - A Gaivota

Um comentário:

lufec disse...

ca, que foda. arrepiou.