quinta-feira, 9 de agosto de 2007

conversas com bru

texto que recebi em email da bru, em resposta à uma conversa sobre como estamos estressadas ultimamente. na mesma conversa estávamos falando sobre como precisamos tirar férias perto da natureza, pra ver se desembaraçam-se esses nós nas costas que o trânsito, os prazos insanos do trabalho causam... o engraçado foi que eu quando pensei natureza, desta vez pensei em ir para a chapada ou para a serra do matutu e fazer trilhas e entrar em cachoeiras tão geladas, que não houvesse a chance de não sair com o espírito lavado e renovado... já a bru, óbvio, pensou em ir pra boipeba se largar na areia e não ter nem que conversar com ninguém! chegamos à conclusão que então não poderíamos planejar essa fuga da cidade juntas já que as idéias de natureza, desta vez estavam tão distantes.... e rá! olha o texto em resposta a essa conversa que eu recebo! a cara dela!

eis o texto:

Aí pelas Três da Tarde
Raduan Nassar(para José Carlos Abbate)

Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis escreventes dividiram entre si o bom senso do mundo, aplicando-se em idéias claras apesar do ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem sobre problemas que afligem o homem moderno (espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os olhares a sua volta, componha uma cara de louco quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo "ciao" ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, e surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados na limpeza dos armários, que você não sabia antes como era conduzida. Convém não responder aos olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes, a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do corpo como se retirasse a importância das coisas, pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em pêlo, mas sem ferir o decoro (o seu decoro, está claro), e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade provisória, toda mudança de comportamento. Feito um banhista incerto, assome em seguida no trampolim do patamar e avance dois passos como se fosse beirar um salto, silenciando de vez, embaixo, o surto abafado dos comentários. Nada de grandes lances. Desça, sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto (coitados!) dos pobres familiares, que cobrem a boca com a mão enquanto se comprimem ao pé da escada. Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado) e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas lá no terraço. Largue-se nela como quem se larga na vida, e vá ao fundo nesse mergulho: cerre as abas da rede sobre os olhos e, com um impulso do pé (já não importa em que apoio), goze a fantasia de se sentir embalado pelo mundo.

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